Arquivo | Dezembro, 2010

Arte da guerra na sua vida

28 Dez

Particularmente eu gosto de ler coisas orientais porque, como já disse antes, é uma coisa que abre a cabeça. Tem muita coisa interessante na nossa filosofia, mas a oriental traz conceitos tão diferentes quanto ricos, eu busco sempre tentar encontrar minhas próprias respostas, e por isso, nada melhor que ver a vida sob outros pontos de vista.

Arte da Guerra” é aquele tipo de livro que a gente sabe que vai ter que ler um dia, no meu caso, esse dia chegou quando resolvi comprar pela primeira vez um daqueles livros das máquinas de livros do metrô, a edição não é tão ruim (mesmo eu nunca me satisfazendo com essas traduções).

É um tratado militar escrito no século IV a.c. por Sun Tzu, e sim, ele só fala de guerra e estratégias bélicas, e não há nenhuma nota de editor dizendo “olha como isso tem a ver com o seu dia a dia”, e mesmo assim é possível se fazer muitos paralelos. Eu vou colocar muitas frases aqui, mas não substitui a leitura, pois não é só o que está sendo dito mas todo o contexto e porquês, que nem se eu quisesse eu conseguiria colocar aqui.

Praticamente ele vai descrevendo quais são os caminhos do fracasso e sucesso numa guerra, simples, direto, sem complicações, e vai contando algumas histórias para ilustrar. (todos grifos meus)

“Vencer cem vezes em cem batalas não é o auge da habilidade, mas, sim, subjulgar o inimigo sem precisar lutar.”

Vamos lá…coisa bonita pra se ler e reflertir

“Faça com que soa força seja percebida pelo inimigo como fraqueza, e sua fraqueza como força. Ao mesmo tempo, aja de maneira tal que a força dele se torne fraqueza; assim, descubra onde ele não é realmente tão forte… Esconda suas pegadas de forma que o adversário ou ninguém possa discerni-las; mantenha o silêncio para que o hostil ou ninguém possa ouvi-lo”.

E agora uma bem ao estilo “Be Water, my friend” do Bruce Lee:

“Pode ser chamado de divino quem é capaz de vencer por modificar suas táticas de acordo com a situação inimiga pois, dos cinco elementos, nenhum é sempre predominante; das quatro estações, nenhuma dura para sempre; dos dias, uns são longos e outros curtos, e a lua cresce e míngua.”


Que tal essa pra explicar pro seu chefe, que sem trabalho em equipe vai sempre se estar atrás da concorrência. (por mais recursos e dinheiro que se tenha).

“Sendo o exército confuso e suspeito, os regentes vizinhos serão um permanente problema. Um exército confuso leva o outro à vitória.”

ou

“Um general hábil busca vitória pela situação e não a exige de seus subordinados, sabe selecionar os homens certos e estes exploram a situação.

Essas praqueles momentos que você se sente pressionado a agir sem saber se deve, praqueles que não sabem distinguir covardia de bom senso:

“Será vitorioso aquele que sabe quando pode lutar e quando não pode.”

“Será vitorioso quem sabe quando usar tanto as grandes quanto as pequenas forças.”

“Os habilidosos na guerra podem tornar-se invencíveis, mas não podem causar a vunerabilidade inimiga”

“A invencibilidade reside na defesa; a possibilidade de vitório, no ataque”

Pra um eventual bibliotecário que esteja lendo isso

“Geralmente, não há diferença entre administrar muitos e administrar poucos. Trata-se de uma questão de organização”

E para um eventual arquiteto de informação

“O que é difícil, na arte das manobras, é fazer com que o desvio seja o mais direto possível, transformando o infortúnio em vantagem”.

tem essa também

“Não podem conduzir a marcha de um exército aqueles que não conhecem as condições de montanhas e florestas, desfiladeiros, pântanos e terrenos perigosos. E os que não usam guias locais são incapazes de obter as vantagens do terreno.”

E pra quem se sente com pouca inspiração….aqui uma lição de criatividade:

“São apenas cinco as notas musicais; contudo as melodias que estas produzem são tão numerosas que é impossível ouvir a todas.

São apenas cinco as cores primárias, entretando, as combinações que produzem são tão numerosas que é impossível visualizar a todas.

São apenas cinco os sabores, mas suas misturas são tantas que é impossível provar a todas.

Na batalha, temos situação idêntica:temos somente forças normais e extraordinárias, mas suas combinações não têm limites, ninguém pode compreender a todas.”

É, o livro é uma lição, do tipo… apenas faça, tem tudo que precisa das mãos

“Na batalha, valha-se de uma força normal para o combate e utilize a extraordinária para vencer”.

“Aparente  confusão é produto da boa ordem; aparente covardia, de coragem; aparente fraqueza, de força. Ordem ou desordem dependem de organização; coragem ou covardia, das circunstâncias; força e fraqueza, das disposições.”

E mais filosoficamente

“Há certas estradas que não se deve seguir.”

Sobre auto conhecimento

“…aquele que conhece o inimigo e a si mesmo, lutará cem batalhas sem perigo de derrota; para aquele que não conhece o inimigo, mas conhece a si mesmo, as chances para a vitória ou para a derrota serão iguais; aquele que não conhece nem o inimigo e nem a si próprio, será derrotado em todas as batalhas…”


E pra terminar, segundo Sun Tzu, para se atrair a derrota, há seis condições básicas (né)

“- Desdenhar o cálculo da força inimiga

– Ausência de autoridade

– Treinamento ineficaz

– Cólera injustificável

– Desrespeito à disciplina”

Pra quem curte a parte sangrenta da coisa, não é por acaso que Jet Li está  ajudando a ilustrar o post, deixo o trailer do filme “Senhores da Guera” (“The Warlords“) que é o ambiente que imagino que tenha sido o que o Sun Tzu escreveu seu tratado, e um ótimo filme para quem gosta de filmes do tipo.

Como escolher?

17 Dez

Esse post vai ficar  em Bibliotequices, mas ele se encaixaria em outros lugares também, pois vou falar das escolhas, melhor ainda, de como é complicado escolher quando se têm muitas opções.

A ideia veio de uma da palestra “Arquitetura da Escolha“, apresentada no 4ºEbai (Encontro Brasileiro de Arquitetura de Informação) que aconteceu em São Paulo em novembro passado, apresentada pelo Feliphe Lavor, um garoto pra lá de esperto e que sempre contribuiu para firmar o conhecimento nessa nossa tão nova área. (Até peço desculpas, Feliphe…porque eu vou viajar)

Vale a pena conferir essa apresentação e outras dele, vou dizer só o que ficou de tudo isso em mim e nos meus pensamentos, tanto pra coisa boba do dia até no meu modus operandi arquitetônio (inclusivewirefrâmico, enfim…).

Lá ele fala que o temos dois tipos diferentes de processar a informação, um Sistema Reflexivo que é movido pelo nosso lado racional e ou otro Sistema Automático que é o que está ligado o tempo todo e age de forma automática, se aproxima do que chamamos de “Intuição. (não concordei muito com os nomes dos sistemas, mas o conceito é bem interessante.)

Na hora de tomar decisões entram no jogo ainda outros fatores, chamados “desvios cognitivos”.

Os desvios do Sistem Reflexivo se referem, no meu ver, à cálculos mesmo que fazemos – a disponibilidade da coisa, a frequência que ela aconteceu, padrões que conhecemos e coisas parecidas com a qual fazemos paralelos ou aquela sensação de que vamos acabar ficando no prejuízo.  No caso do Sistema Automático, são nossas experiências, o contexto social, informação da ação coletiva, a sensação de estarmos sendo pressionados ou observados que interferem nas nossas escolhas.

A Arquitetura da Escolha, ou como guiar esse processo seria representada por 8 tipos de ações

  • Estímulos – dicas que podem levar a uma determinada escolha.
  • Mapeamento das opções – Disponibilizar as opções de forma que seja possível compará-las.
  • Opção Padrão – Economiza tempo  considerando a inércia natural da maioria das pessoas
  • Feedback – informando se foi ou não uma boa escolha
  • Prever erros – o exemplo que ele usou foi a cartela de pílula anticoncepcional que ja vem com os dias da semana
  • Afunilamento de opções – Esse eu achei muito interessante, quando se tem muitas opções, as escolhas podem ser feitas por estágios, o que facilita muito a tomada de decisão.
  • Recomendações – Também é um tipo de dicas, mas mais direta, informando sobre essas opções.
  • Reversibilidade – Essa é possível tecnologicamente falando, mas além de possível, considero imprescindivel, tem coisa pior que não poder “desfazer”?

Depois o Feliphe continua falando do case que ele levou ao EBAI, que era sobre escolha de planos de saúde.

O post ficou um pouco longo, mas vou falar agora o que disso tudo ficou fervilhando na minha cabeça.

Realmente, na hora de pensar a arquitetura de um site, o mínimo que podemos fazer é que as pessoas tenham consciência das opções que têm sobre determinado produto. Não é nada legal induzir uma decisão, ainda que isso seja feito e muito, particularmente, na minha formação como bibliotecária, acho um crime.

Bibliotecários as vezes pecam pelo excesso…queremos que as pessoasa saibam TUDO que foi escrito sobre aquele assunto, depois de um tempo você aprende a ler seu usuário e seu acervo de uma maneira que ofereça as opções que chegam mais perto daquilo que ele deseja, mas faz parte informá-los de que existem ainda outras possibilidades.

Mas voltando para internet, onde as informações são em volume vertiginoso, é preciso um cuidado maior com o tempo do seu usuário. A arquitetura da escolha é uma ótima saída, segmentar as opções saindo da categoria maior e afunilando para as menores é uma boa para melhorar a experiência da pessoa que está ali para fazer um pagamento, comprar uma panela, ou cadastrar um currículo.

Claro que tomar decisões vai muito além de emprestar um livro numa biblioteca ou de fazer seleções para montar sua casa perfeita na internet.

Clichêzinho agora…todos os dias temos que tomar decisões e todas as nossas escolhas mudam o que somos e tudo aquilo vivemos agora e viveremos um dia, e na vida não tem o botão “Desfazer” ou “Voltar”. Para tanto, é bom termos consciência que temos dois sistemas diferente agindo dentro de nós, e que muitas vezes podemos estar fazendo uma escolha no botão automático, seguindo padrões e escolhas de outras pessoas que já foram feitas milhões de vezes e nem nos damos conta.

Para que nossa vida seja diferente e seja realmente nossa, as nossas escolhas precisam ser assim também. Fica a dica pra parar pra pensar mesmo se estamos realmente fazendo uma escolha ou apenas selecionando uma opção.

——————post do post ———————————————————————————–

Segue um bom link : UXMyth #29: People are rational : muita coisa tem na apresentação do Lavor, traduzida, mas no final tem mais algumas referencias e questões bem legais para se pensar!