Obrigada pelos peixes

31 Dez

Deverias ter me dito desde o início

Assim ~ talvez ~ evitaria que minha alma, que como em sublime orquestra se encontrava, passeasse pelas suas histórias tuas.

Sabe, é que das duas, uma:

Ou, o elemento ínfimo e fundamental de toda poesia tivesse sido a excitante liquidez de suas notas que causou a estranha e confortável certeza de sua fugacidade.

Ou, talvez fosse indiferente.

E aí, mesmo que conhecesse, já não havia possibilidade de alterar-se o lânguido percurso que agora se descreve para que o coração tenha paz.

Seguro, como naquelas histórias em que a melodia já fora memorizada, morava uma suave e acalentadora familiaridade. Madura, ingênua, indefinível.

Só o que se podia saber é seria bom ouvir e resgatar cada fragmento que se materializava em diversas formas. Não em todas.

Breves reticências não foram capazes de demonstrar qualquer não sinal de convite.

As janelas estavam abertas, o vento morno arrastava para fora. Como em água doce e calma, mergulhei, desses que não se tem, desses que nem sequer se concebem.

Ainda que já tivesse suspeitado da sombra, nunca havia sentido o sol tocar na pele como desta vez. Fechei os olhos forte, como se assim a sensação pudesse ser melhor capturada e devidamente compreendida.

Mas ao abri-los e levá-los novamente ao céu, a lua me fitava.  Nítida, ainda que nublada, era possível senti-la embora não fosse possível tocá-la. Respirei fundo como se isso tornasse a sensação tão materializável como um beijo, por puro reflexo da alma.

Ela estava aninhada nas notas, dançando boba. Como criança pequena em colo de mãe.

Seu desejo primeiro foi engolido num ato generoso e transformado numa preciosa lágrima que feliz se deliciou e a saciou, ela apenas exigiu em palavras se expressar:

poderias ter dito desde o início, mas obrigada pelo passeio através da linda janela sua.

PE.

18n13

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