Sobre Anjos II

19 Mar

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Esse post quase foi sobre almas gêmeas, mas aí ficou sobre anjos mesmo.

Tenho duas imagens sobre anjos dentro de mim: aquele anjo que protege (anjo da guarda) e o anjo que existe para te fazer digno. Digno de possuir a vida que ganhou de presente (ou de carma).

Anjos deixaram de ser criaturas distantes, celestiais, preservadas sob a áurea do divino. Talvez eles ainda sejam essas criaturas – se quiser ver o lado mágico da coisa – mas eles se vestem de um material tão mortal e tão humano quanto nós, mas com uma missão especial: tirar o melhor de nós, despertar o divino latente dentro da gente.

Imagino que cada um desses anjos tenha uma abordagem : alguns são disfarçados de monstros – tem a cara feia, dão arrepio mas ao mesmo tempo nos atraem de uma maneira misteriosa. Por mais dolorosa que seja a passagem desses anjos na nossa vida, eles nos obrigam a aprender, levantar, trabalhar nossos sentimentos, e no fim, depois que eles passam por nossas vidas nunca mais somos os mesmos. A pérola é fruto do sofrimento, também nós podemos aproveitar uma experiência ruim e apropriarmos de algo único, pessoal e intransferível: a experiência humana.

Tanta volta para chegar ao ponto que quero: um desses tipos de anjos – aqueles cuja existência quase se confunde com o significado da nossa.

É uma variação do anjo da guarda, mas que, devido às nossas necessidades assumem papéis diferenciados – algumas vezes afagam, elogiam, cuidam, zelam e outras provocam, repreendem, brigam e até desprezam.

Parece contraditório , mas esses anjos vão assumir a forma – ou papel – que for necessária para nos forçar a ser o melhor que conseguimos, essa é a missão deles. Quanto mais sublime nosso processo de transformação em seres dignos, mais eles alongam suas asas e mostram as dádivas divinas que são.

Você deve conhecer pessoas assim também, são pra elas que você corre na hora que a coisa aperta, quando o nó chega na garganta e faz a respiração ficar difícil. São aquelas que só de olhar de devolvem a coragem, são aquelas que vibram de verdade com as suas vitórias – o brilho delas transpassa na voz, no olhar, naquele intangível êxtase ao te ver digno.

Eu tenho um anjo desses sob a forma de irmã, prova da infinita bondade de Deus, ou do acaso tão perfeito que faz de mim alguém com a maior das sortes. Ela veio com seus olhos azuis, com seus atributos genéticos “socialmente valorizados” tomar para si um pedaço de tudo que era meu. A dignidade que me foi exigida com a chegada dela – ainda um bebê – fez de mim o que sou hoje, para o bem e para o mal.

Lógico que não parou por aí. Eu não era uma criança que sabia lidar com isso, ela estava sempre ali, me forçando a construir um caminho, a construir um papel de irmã mais velha. Desajustada, eu não queria ser responsável, não queria ser exemplo, mas ela estava sempre lá – me olhando com aquele brilho no olho que me assustava – como ela ousava invadir e conhecer a minha alma desse jeito?

Era uma presença se sobrepunha sobre a minha, se misturava, suplicava minha atenção. Afetou cada minuto da minha infância e adolescência, era um tal de lidar com raiva, inveja, amor, ódio, posse, proteção, fraternidade, cumplicidade – tudo isso sem precisar dar nome – tudo era simplesmente vivido e experimentado. Por mais pesada que fosse cada experiência ela não machucava a alma, mesmo nas piores brigas e atritos não ficava sequer rastro de mágoa ou arrependimento. Eu estava perdoada simplesmente por existir, e por mais que eu me atentasse e recitasse tantos fatos sobre ela, nada pesava, ela continuava leve e pura como da primeira vez que a vi.

Ainda que a convivência me ensinasse, foram em todas as dolorosas experiências e fracassos externos que ela crescia. A cada sofrimento que eu enfrentava vinha à consciência o real significado da presença daquela menina de olhos azuis na minha vida, daquela presença intrusa e que fazia parte do que eu era.

Foram nas minhas fraquezas que que as asas delas se mostravam – gigantes, brilhantes e incrivelmente acolhedoras. Uma espécia de telepatia inerente, e independente de estímulo externo (fosse olhar, conversa, gesto) nada era necessário. A simples existência dela me fazia digna. E essa dignidade me fez forte. Não há como agradecer algo assim, nada é capaz de compensar essa sorte. Fui abençoada e pronto.

Não sou capaz de devolver, o máximo que posso fazer é dar sentido à missão dela e me esforçar para ser digna. Uma visão extremamente egoísta sobre a vida dela, como se eu fosse o carma que ela tinha que resolver, mas é como eu me sinto perante isso – não me sinto em dívida, me sinto abençoada pelo divino.

A Bruna é tão perfeita em completar minha vida e me fazer uma pessoa melhor, que não sou capaz de imaginar uma dimensão onde nossas existências não tenham sido planejadas para acontecerem dessa forma. Como alguém tão humana quanto eu seria tão generosa e eficiente em ser e agir exatamente como deveria para me fazer forte e digna se esta não fosse sua missão?

19 de Março, dia dos representantes dos anjos na Terra, dia que nasceu o anjo na minha vida : Bruna Terezinha.

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2 Respostas to “Sobre Anjos II”

  1. macedobru Março 19, 2013 às 10:04 pm #

    Você deixou esse olhos azuis cheios de lágrimas ( bem, eu acho ele verde buuut)
    É incrível o sentimento que sinto por você e pelo Mateus. É uma das poucas coisas que me fazem ter certeza que há alma, que há vida pós a morte, que a gente não vira pó.
    E incrível como o estado emocional de vocês muda meu dia, pro bem ou pro mal.
    É incrível como há algo tão forte que une as pessoas a pontos de torná-las parte mesmo, integrante/fundamental/essencial/inseparável.
    Antes eu te via como espelho por ser algo inerente ao irmao mais novo, mas com o tempo a admiração se tornou real pelas ações, pelo sorriso, brilho, nos olhos e comprometimentos.
    Tenho certeza que vim pra Terra pra cuida de você, pra te dar um abraço, te dar apoio, e sou grata por ter a chance de fazer isso, de ver que sou importante e que consigo te ajudar.
    SOu grata a cada minuto, por voces, Mae, Pai, Mateus, Zuzu e Xu e você, vcs vão se pra sempre meu tudo, eu sempre vou abrir mão do que for pra ter vcs ao meu lado!Somos todos anjos que caíram na graças de Deus e ele reuniu em uma só família.

    Obrigada, por estar comigo,por ter me emprestado um pouco do jeito, um pouco do corte do cabelo, um pouco da boca, um pouco da vida, um pouco do amor.

    Te amo incondicionalmente
    Bruna Terezinha

  2. jussara Março 25, 2013 às 8:28 pm #

    Estou pra ler esse texto desde que no meu feed aparece suas atualizações.
    Me retomou a consciência de quanto nos permitimos ser responsáveis em graus maiores ou menores. Que bela amizade!

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